Improviso do dançarino Henrique Lima em seu espetáculo “O Último Dia” encanta plateia do Municipal



Improviso do dançarino Henrique Lima em seu espetáculo “O Último Dia” encanta plateia do Municipal



Na noite desta quinta-feira (5) o Teatro Municipal de São Sebastião recebeu o talento do premiado dançarino pernambucano Henrique Lima e seu espetáculo solo de dança “O Último Dia”.

O projeto circula pelo Estado de São Paulo pelo Proac – Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura e em São Sebastião contou com o apoio da Secretaria de Cultura e Turismo – Sectur.

Vencedor do ‘Prêmio Denilto Gomes 2015’ na categoria Criação Solo, Lima conta que o espetáculo nasceu em Lisboa, onde, prestes há completar 40 anos e ainda integrante da Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo, Henrique Lima reviu sua vida e trabalho artístico.

Com experiência em grandes companhias brasileiras, como a ‘J.Gar.Cia Dança Contemporânea’, a ‘Quasar Cia. de Dança’, o ‘Balé da Cidade de São Paulo’, o ‘Balé Popular do Recife’ e da ‘Cisne Negro Cia de Dança’, o artista percebeu que era hora de pensar sobre sua própria identidade como criador.

O resultado de toda essa experiência culminou na criação de “O Último Dia”, um desdobramento dessas reflexões que estabelece um diálogo sobre a angústia com o público. “Não uma angústia necessariamente triste, mas sim a que te mobiliza para se alcançar a liberdade”, explica o dançarino.

Após o espetáculo o dançarino conversou com a plateia, que em boa parte foi composta por dançarinos sebastianenses que participaram da oficina proporcionada por Lima no período da tarde no próprio teatro.

No fim da noite Henrique Lima resumiu a experiência. “A cada lugar que passo cresço pessoalmente e profissionalmente diante das diferenças que vou enfrentando com tantos e variados lugares e públicos e em São Sebastião não foi de outra forma. Aqui a vivência foi muito interessante com estes dançarinos e demais pessoas da plateia, desde a oficina até o bate papo pós apresentação. Foi tudo muito bacana”, resumiu o artista.

Dançarinos de grupos sebastianenses, alguns do DR – Descendentes de Rua e outros do Independance, fizeram parte da oficina e voltaram para ver o espetáculo. Jonathan Reinaldo Oliveira, Nicolas Faria, Fernando Pereira e Guilherme Luiz Mariano falaram sobre o que absolveram da vivência do dia.

“Foi uma experiência, além de muito edificante pra nós que dançamos também, pro nosso aprendizado técnico para a arte que fazemos, de uma importância especial para este momento, pois estamos montando um trabalho que envolve o improviso e a vinda dele foi uma oportunidade inesperada e essencial”, disse Jonathan.

“Poder ver um espetáculo totalmente desenvolvido com o uso do improviso foi incrível, é uma verdadeira tradução do que é dançar, algo que vai além de decorar uma coreografia e se apresentar, é poder traduzir a música através do corpo em forma de dança e isso é muito rico”, completou Nicolas.



“É impressionante o trabalho que ele realiza com o corpo, a expressão que consegue traduzir a mensagem e a música não utilizando as expressões faciais, pois o rosto está coberto por uma máscara que tem apenas uma expressão. Foi muito bacana, aliás, vir assistir espetáculos de dança para nós que somos dançarinos é de grande importância, pois significa um crescimento que contribui para nossa bagagem de informações técnicas”, resumiu Fernando.



Projeto

No espetáculo, o artista explora de forma improvisada seu corpo e busca construir um “outro em si”, utilizando de forma ampla esta ferramenta essencial. A ideia de renovação, ciclos e encerramentos é representada pela utilização da máscara de um idoso. Essa escolha permite ao artista experimentar esse corpo estranho, transportando diversas sensações num movimento inverso, de fora pra dentro. Suas angústias e agonias se misturam a este personagem.

O trabalho também levanta a questão da aceitação da velhice, época que traz novas limitações e conscientizações sobre o próprio corpo.

Inspirado pela estética beckettiana, o cenário da peça, criado pelo próprio Henrique e também por Rodrigo Andrade, molda o chão com peças de papelão. Há também um grande galho seco na lateral da cena, conferindo à cena a impressão deste ambiente se tratar de um lugar abandonado.

A pesquisa musical feita por Henrique, Fernando Martins e Sérvulo Augusto retrata um cenário urbano com efeitos de vento, barulhos da rua e outras trilhas incidentais. O figurino é de Vivian Navega e Victoria Oggiam, que usaram calças sociais, camisa e paletó, são também acinzentados e de aparência antiga. A iluminação de Rossana Boccia, adaptável para qualquer espaço, desde praças públicas até teatros convencionais, também dialoga com o tom cinza e antigo que guia “O Último Dia”.

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