“Somos Todos Sacys” traz o encanto do mito nacional ao público



Foto: Arnaldo Klajn | PMSS

Legenda: Público assiste ao documentário, excepcionalmente, nas dependências do Observatório Ambiental



“Somos Todos Sacys” traz o encanto do mito nacional ao público

Documentário abre programação do Projeto Conexão São Sebastião dedicada às comemorações do Dia do Folclore



Quem nunca ouviu falar nas travessuras do Saci-Pererê, personagem do imaginário da cultura popular conhecido em todo o país? Lenda ou mito, muitas pessoas contam histórias, relembram fatos ocorridos que viraram “causos” contados de geração em geração.

Parte dessas histórias pode ser conferida no documentário “Somos Todos Sacys” que abriu a programação “Retratos Brasileiros” do Projeto Conexão São Sebastião, parceria entre o Projeto Vento Forte e a Secretaria de Cultura e Turismo (Sectur) de São Sebastião.

Exibido dia 11, na Praça Pôr-do-Sol, em Boiçucanga, na Costa Sul, e nesta quinta-feira (13), no Observatório Ambiental, na Rua da Praia, em sessões gratuitas, o documentário traz depoimentos de moradores de cidades do interior paulista que convivem com histórias das traquinagens do Saci.

Os diretores Rudá de Andrade e Sylvio Rocha passaram dois anos recolhendo evidências e depoimentos de pessoas que tiveram contato com os sacis. O documentário também traz informações sob o contexto histórico, cultural, social e político do mito que sobrevive também no trabalho de resgate cultural promovido pela Sociedade dos Observadores do Saci (Sosaci), com sede em São Luiz do Paraitinga.

O saciólogo Vladimir Sachetta, integrante da Sosaci, fala da importância do personagem folclórico como um “mito libertário”. Já, a historiadora Márcia Camargos, faz referência à origem dessas histórias que têm mais de 200 anos e surgiram a partir da cultura indígena, passando pela africana. Segundo Márcia, ela relaciona as três etnias formadoras da população brasileira: o negro, o indígena e o branco. O documentário começa e termina com depoimento de dona Ruth Guimarães. Em determinado momento ela diz: “quem não tem imaginação para sonhar, sonha com o Saci porque a vida tem de ser encantada”.

Surpresas

Para a promotora da Associação Cultural Vento Forte, Thalita Ateyeh, uma grata surpresa foi a presença do público superior a 30 pessoas e o grande número de crianças na exibição em Boiçucanga. “Foi muito bacana essa participação e tanta mobilização em um filme brasileiro”, disse. “A população sente a necessidade de resgatar a cultura”, frisou.

Quem participou, pela primeira vez, elogiou a qualidade da programação. É o caso da enfermeira Lara Passos Kayakoki que também gostou do espaço do Observatório Ambiental embora as sessões, no centro da cidade, aconteçam sempre na Videoteca Municipal. “É muito bom ter uma atividade com cinema e cultura. Ajuda a abrir a cabeça para coisas novas e tira a gente da zona de conforto”, observou.

Já, Eliana Moreira de Souza, farmacêutica, comentou que por não haver cinema na cidade, o projeto preenche o espaço para possibilitar acesso à cultura. “Acho que deveria ter mais divulgação porque o projeto é muito interessante”, comentou.

Brasilidade

Em entrevista concedida em 2004, a diretoria da Sosaci afirmou que o Saci “é uma força de resistência cultural por ser, entre todos os mitos e lendas do nosso folclore, a essência de brasilidade”.

Ela declarou, ainda, que o mito do Saci nasceu entre os indígenas da região de Missões, por isso conhecido também na Argentina e Paraguai. “Era um curumim meio endiabrado, mas tinha duas pernas e um rabo e cor morena como os indígenas. Em seguida, o mito migrou para o norte e encontrou a mitologia africana transformando-se no negrinho que perdeu uma perna lutando capoeira. Ele herdou, também, dos costumes africanos o inseparável pito. E, finalmente, encontrou a mitologia européia, da qual herdou o pileo, o gorrinho vermelho. Os romanos chamavam de pileo o gorro vermelho que davam aos escravos que libertavam. Portanto, o Saci também é o símbolo do homem livre, o que tem tudo a ver com a resistência cultural”, explicou.

Em vários estados e cidades do país foram criadas leis para comemorar o Dia do Saci, em 31 de outubro, como a Lei nº 11.669, de 13 de janeiro de 2004, do Estado de São Paulo.

Programação

A programação do Conexão São Sebastião prosseguirá com exibição do documentário feito na região, realizado pelo Centro Cultural “Pés No Chão” de Ilhabela.

O grupo já produziu vídeos em comunidades afastadas do arquipélago e, neste mês, será exibido o trabalho realizado na “Ilha da Vitória”. O terceiro filme será “Serras da Desordem”, um longa dirigido por Andrea Tonacci. O documentário acompanha a trajetória de Carapirú, um índio Guajá que perambula por 10 anos o interior do Brasil depois de sobreviver a um massacre promovido pelos fazendeiros. O documentário foi premiado como melhor filme, direção e fotografia em Gramado (SC), recebeu o prêmio ‘Margarida de Prata’ em 2006; melhor filme no Ecocine; Melhor Filme Brasileiro na Mostra de SP, entre outros.

Confira:

Boiçucanga | 19h30

Cineclube da Praça | Avenida Valkir Wergani, 1000

Dia 28 | “Ilha das Flores ”

Dia 25 | “Serras da Desordem”

Centro | 19h30

Videoteca Municipal | Avenida Altino Arantes, s/n

Dia 20 | “Ilha das Flores”

Dia 27 | “Serras da Desordem”

Serviço: Informações no site www.ventoforte.org.br ou pelo e-mail ventoforte@ventoforte.org.br e no telefone (12) 3865-5654.

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