Folias de Galileu leva público a viajar no tempo e participar da história



Fotos: Rosângela Falato | PMSS

Legenda: Plateia é envolvida em uma apresentação inovadora passando por vários locais da Casa que se transformaram em cenários da peça



Folias de Galileu leva público a viajar no tempo e participar da história

Cenas que mostram a vida do astrônomo italiano promovem reflexão sobre a importância de um novo olhar para o mundo



“Onde está o Galileu em cada um de nós, a coragem de pensar, ousar, acreditar em suas ideias e propostas, sair da zona de conforto para mostrar também seu olhar sobre o mundo?”. Essa indagação foi feita em conversa com uma plateia atenta que teve a oportunidade de participar de cada cena do espetáculo Folias de Galileu, apresentado pelo Grupo Folias D`Arte, de São Paulo, no Teatro Municipal de São Sebastião na noite de quinta-feira (21).

O público foi envolvido numa apresentação inovadora ocupando todos os espaços do teatro com cenários e personagens que falavam da vida, dilemas, embates pessoais, filosóficos e intelectuais do físico, matemático e astrônomo, Galileu Galilei, nascido na Itália em 1564, e um dos principais representantes do Renascimento Científico dos séculos XVI e XVII.

Prêmio Shell

Indicado ao Prêmio Shell em 2013 na categoria melhor Cenário e premiado pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) no mesmo ano na categoria Direção, o espetáculo com concepção cênica de Dagoberto Feliz é uma criação coletiva que envolve 25 atores responsáveis por promover uma verdadeira viagem no tempo. A peça sai do palco e acontece em cada espaço do teatro com cenários, figurinos, iluminação e encenação próprias de personagens que fizeram parte da vida de Galileu, inclusive a representação mostrando a dualidade em um período de grandes descobertas que eram proibidas e consideradas perigosas para os sistemas da época.

Dividido em grupos, o público foi levado aos cenários. Aí incluíram-se banheiros, camarins, escadas, salas, recepção todos transformados para receber uma plateia eclética que passava por todos os espaços onde personagens contavam sua história e relação com Galileu. A interação foi total e mesmo quem nunca tinha ouvido falar no astrônomo teve a perfeita noção de sua importância ao vivenciar cada cena.

Em uma delas, a personagem que retratava a mãe de Galileu mostra sua preocupação com o filho. Ela encaminha o grupo para uma luneta e convida as pessoas a usá-la. Ela pergunta para as crianças: “o que vocês estão vendo?”. Todos respondem: “nada”. Então ela completa: “mas Galileu via o que os outros não viam”.

O tempo todo o espetáculo leva as pessoas a refletir sobre si mesmas como o ator que personifica o povo. Ao falar sobre Galileu, ele diz que o astrônomo falava que qualquer pessoa simples tem condições de entender, pois são seres pensantes e criativos.

Interação

Após a apresentação, o grupo se reuniu com a plateia para uma conversa informal e saber as impressões de cada um. A criação coletiva é uma leitura da proposta original de Bertold Brecht em que o personagem Galileu está presente junto com os personagens. No espetáculo do Folias, a figura do astrônomo é comentada pelos personagens com uma proposta cênica para as pessoas perceberem que tudo está interligado. Em todas as cenas, a maçã, significando a terra, está presente mostrando a descoberta de Galileu que a terra não era o centro do universo conforme a concepção anterior de Aristóteles.

Os atores criam os cenários, figurinos, se apropriam dos espaços e fazem suas escolhas de forma afetiva, como uma das cenas falada em italiano. Para a plateia foi uma novidade, uma sensação de curiosidade sem saber o que viria depois como disse o morador de São Sebastião, José Arantes, 62, que pela segunda vez pisava em um teatro. A filha Joanice Almeida, administradora de empresas, não tinha ideia do que encontraria. “Ele traz o novo, o processo de que somos seres pensantes”, disse. Para ela, o símbolo da maçã estava ligado ao fruto proibido, como “também eram proibidas as ideias de Galileu”. Camila Braz e a filha Larissa, de 12 anos, moradoras em Boiçucanga, na Costa Sul do município, foram envolvidas na viagem. “Tive várias sensações porque a gente participa do momento”, comentou. Para Larissa, “mais fácil do que assistir é viver a cena”.

O juiz federal Ricardo Castro Nascimento conhecia a peça original e o trabalho do grupo, mas tinha muita vontade de ver como era essa nova leitura. “Os atores são impecáveis na apresentação. Eles vão na essência da questão e as pessoas não se perdem na história”, afirmou. Luciano Draetta, do Circo Navegador, abordou a importância das leis de fomento para consolidar os recursos para projetos culturais garantindo sua continuidade, lembrando que a “ lei mudou o cenário da produção paulistana”. Ele falou da dificuldade de cidades pequenas terem condições de manter seus grupos e receber espetáculos e agradeceu ao Folias pelo trabalho ousado e corajoso. “Foi um presente que vocês deram pra gente e a afetação aconteceu”, mencionou.

Serviço: Para conhecer mais sobre o trabalho do Grupo Folias D´Arte basta acessar o facebook.com/galpaodefolias ou ainda entrar em contato pelo e-mail foliasdarte@gmail.com. O Galpão do Folias, que também promove cursos, oficinas e recebe espetáculos, fica na rua Ana Cintra, 213, Campos Elíseos, em São Paulo. Telefone (11) 3361-2223.

(RO/RF)

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