Marcos Feliciano fala de perseguição, imprensa e política no último dia do 5º Glorifica Litoral





Em seu twitter pessoal, Marco Feliciano contabilizou ter pregado para 20 mil pessoas. Já a Prefeitura contabiliza mais de 70 mil pessoas que prestigiaram o último dia do V Glorifica Litoral
Leonardo Rodrigues


O deputado federal Marco Feliciano (PSC) marcou presença no último dia da 5ª edição do Glorifica Litoral. Ele que veio na condição de pastor, falou em sua pregação sobre perseguição, mídia e política.
Antes de ser chamado ao palco, o mestre de cerimônias do evento leu artigo do Código Penal Brasileiro - que prevê pena de detenção de um mês a um ano ou multa ao cidadão que zombar ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso. Assim que apareceu Feliciano teve que lidar com alguns manifestantes que protestavam contra sua manutenção na presidência da Comissão Nacional de Direitos Humanos e Minorias. Em paralelo, muitos aplaudiam, e gritavam a favor do deputado. Alguns até circulavam com camisetas que diziam: “Marco Feliciano me representa”.
Ao assumir o microfone, Feliciano denunciou duas manifestantes que estariam se beijando. “Tem duas garotas se beijando no meio de um culto. Elas têm que sair algemadas”, disse.
Feliciano exigiu respeito e considerou o ato como vilipêndio a culto, ou seja, de grande desprezo a uma prática religiosa. “Eu imagino os pais sabendo que suas filhas estão fazendo isso em praça pública”, comentou.
Em seguida, o pastor aconselhou os policiais a tomarem cuidado ao abordarem os manifestantes. “Esse pessoal vai dizer que vocês estão batendo neles”. A polícia retirou as duas jovens e encaminhou à delegacia. Com isso, o restante, cerca de 30, seguiu ao encontro das duas manifestantes a fim de suas liberações.
O convidado da noite também recomendou aos presentes que mostrassem “a pessoas de bem” quem são os intolerantes de verdade. “Os crentes são simples, mas não somos otários de ninguém. A lei que protege eles nos protege também” falou ao se referir sobre manifestações que escarnecessem de cultos religiosos.


Imprensa
Em seguida, Marcos Feliciano se volta à mídia. “Eu sei que a imprensa local está aqui. Eu tenho certeza que o jornal da cidade está aqui”, disse o deputado ao propor aos pastores e líderes que, caso houvesse matéria com enfoque mais na manifestação que na programação, fosse realizado uma manifestação na porta do jornal. “Vamos esperar até terça-feira porque já está tarde e não dá mais tempo de sair amanhã (segunda-feira)”, comentou sobre aguardar a edição desta terça-feira.
Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias não valeria a pena uma matéria de manifestação por causa de “meia dúzia”. Ele fez a mesma proposta caso rádios e canais de televisão fizessem algo parecido. A passeata ao jornal, rádio e demais veículos de comunicação serviria para mostrar “força de mobilização”.


Perseguição
Pregando embalado por música de fundo, Feliciano comentou que há quatro meses ele foi exposto na mídia “como um monstro”. Segundo ele, manifestações sobre sua figura parlamentar estão dentro da democracia. Todavia, o mesmo não ocorreria com comentários no tocante a seu título de pastor.
Por conta disso, Feliciano relatou perseguição. O pastor contou que sua filha de 18 anos estuda em outro país, por não haver universidades no Brasil sem que ela sofresse algum tipo de perseguição. Segundo ele, sua filha era torturada e humilhada “por alunos malucos e professores ativistas”.
“Nesse país não vale fatos, vale versão”, comentou sobre as diversas especulações, matérias e reportagens a seu respeito.
Ele acrescentou que outras duas filhas, menores, estão em tratamento psicológico após presenciarem ativistas subirem em cima de seu carro e exporem as genitálias para sua família. “Minha esposa está com uma doença psicossomática que não tem cura e eu já perdi 10 quilos”, desabafou o pastor.


Política
Em referência a manifestações e tratamento da mídia, Marco Feliciano avisou: “o troco virá ano que vem”. Com receio de que alguém não tivesse entendido, o deputado usou a expressão de que iria desenhar, para ficar entendido, e prometeu que ano que vem será formada a “maior bancada evangélica do Brasil”.
O deputado federal fez um paralelo entre a perseguição que diz sofrer e o desempenho da presidente Dilma Rousseff . Segundo ele, antes de começarem a persegui-lo, Dilma apresentava uma aprovação a seu governo de mais de 70%. Todavia, após ter começado a sofrer manifestações contrárias, não apenas a seu mandato, mas também por conta de seu pastorado, a presidente começou sofrer um reverse na avaliação de seu governo.
Feliciano citou “o fenômeno das manifestações” ao se referir as passeatas em diversas cidades do país que começou em junho, na qual diz que cientistas políticos não souberam explicar sua origem e que acarretou na queda no índice de aprovação de Dilma para 26%. “Olha o que fizeram comigo e o que aconteceu com eles”, sugeriu o pastor.
Com isso, o deputado disse não saber se Dilma conseguirá se reeleger nas eleições do ano que vem, mas caso saia candidato, Marco Feliciano afirmou que será o mais votado do Estado.
Ele também revelou ter apoio de pessoas de outros segmentos religiosos. Segundo ele, certa vez uma pessoa do Rio de Janeiro, representando cerca de 600 terreiros de Umbanda, foi a seu gabinete em Brasília mostrar apoio e solidariedade. “Ele me disse que pagaram sua viagem só para me dizer: ‘Continue defendendo nossa família’”, conta o deputado.
Marco Feliciano, que em seu Twitter contabilizou um público de 20 mil pessoas na Rua da Praia, também prometeu esforços para que o Glorifica Litoral entre no calendário nacional. O evento já faz parte do calendário do Estado de São Paulo.


Foto: Luciano Vieira/PMSS
Jovens relatam agressão de GCM e momentos de tensão ao serem hostilizadas por deputado


Mara Cirino


Era para ser uma manifestação contra as atitudes do pastor e deputado federal Marco Feliciano (PSC) que fez pregação em um culto evangélico na noite de domingo dentro da programação do Glorifica Litoral. Mas o que se viu durante alguns momentos foram tumulto e agressões contras duas jovens que decidiram se beijar enquanto o pastor estava ao microfone. Um aparato de Policia Militar e Guarda Civil Municipal (GCM) foi montado para garantir a ordem no local.
Feliciano mandou que a polícia retirasse as jovens algemadas “Essas duas precisam sair daqui algemadas”, disse, momento que grupo de manifestante foi cercado por GCMs, conforme registro da filmagem feita por integrantes do grupo.
Na linha de frente estavam as estudantes Joana Palhares, 18 anos, e Yunka Mihura, 20 anos. “Quando ele mandou nos prender, houve um empurra-empurra, pessoas gritando com a gente e guardas civis nos agarrando”, relata Joana.
Ela conta ainda que foi jogada contra as grades e depois levada para debaixo do palco, momento que teria sido agredida. “Teve um GCM que me deu três tapas na cara e me jogou no chão”, diz Joana, acrescentando ter ficado desesperada por não saber onde estava Yunka.
Por sua vez, Yunka conta que também levou vários tapas na cara e gritou muito, momento que a tiraram à força debaixo do palco. “Foi horrível, foi o momento que tive mais medo”, relata a jovem que descreve ainda ter ficado estarrecida quando o pastor-deputado mandou que a plateia as ignorasse “que fôssemos tratadas como cachorras que íamos parar de latir”.
Depois da sessão de agressão, como relatam as jovens, elas teriam sido levada em uma viatura para a Delegacia de Polícia Central para registro de ocorrência. Ao mesmo tempo, passaram por exame de corpo delito e registraram boletim de ocorrência de lesão corporal e abuso de autoridade.
Ainda ontem, o advogado das jovens, Daniel Galani, explicou que vai entrar com uma representação na Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) local, assim como acionar a Corregedoria da GCM para apurar os envolvimentos nos guardas na denúncia de agressão.
Também deve acionar a Secretaria Nacional de Direitos Humanos para entrar com uma ação contra o deputado federal Marco Feliciano, bem como conseguir apoio para entrar com denúncia de decoro parlamentar contra o acusado.
Outro ponto levantado pelo advogado e as jovens é que a manifestação foi em uma área pública. “Não foi em uma igreja, mas em evento público e pago com dinheiro da população”, disseram.


Prefeitura
Ontem, a Prefeitura de São Sebastião informou, por meio de sua Assessoria de Imprensa, que tendo como base o artigo 208 do Código Penal Brasileiro - que prevê pena de detenção de um mês a um ano ou multa ao cidadão que zombar de alguém publicamente por motivo de crença ou função religiosa e impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso – a Guarda Civil Municipal (GCM) agiu inicialmente conversando com as manifestantes e na tentativa de retirá-las do local com segurança – tendo em vista que o grupo corria o risco de um possível mal maior por parte de pessoas que insinuavam uma agressão - um cordão de isolamento foi preparado.
O fato é que as duas mulheres foram encaminhadas ao 1º Distrito Policial e lá o delegado de plantão decidiu registrar a ocorrência apenas como averiguação. Na manhã de ontem, o caso começou a ser averiguado tanto na Ouvidoria quanto na Corregedoria da GCM que está já está apurando se houve excessos por parte dos guardas que estavam no local de plantão.


OAB
Ontem, em nota, o presidente da OAB de São Sebastião, Cesar Arnaldo Zimmer , explicou que o fato ocorrido durante o Glorifica Litoral, envolvendo o pastor Marco Feliciano e manifestantes, deve ser cuidadosamente tratado e investigado, pois, ao que parece direitos foram violados, e desta forma devem ser apurados pelas autoridades competentes.
“A 136ª Subseção da OAB de São Sebastião e Ilhabela através de sua comissão de direitos humanos, fica à disposição das partes envolvidas”, destaca a nota.
As duas denúncias podem ser encaminhadas para a sede da entidade situada na rua Vereador Mario Olegário Leite, 50, Centro de São Sebastião.

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