Ernane é cobrado por moradores excluídos do auxílio-moradia







Prefeito conversa com moradores que reivindicam o benefício
Helton Romano


Trinta e quatro famílias da Costa Sul de São Sebastião, cadastradas para receber Auxílio-Moradia Emergencial, assinaram, na manhã de domingo, o termo de adesão ao programa. O evento ocorreu no Centro de Referência de Assistência Social, de Boiçucanga, e contou com a presença do prefeito Ernane Primazzi (PSC).
Agendado para as 10h, as famílias e o prefeito tiveram que esperar até as 11h25, quando finalmente chegou o representante da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) – órgão estadual responsável pelo programa. Nesse meio tempo, um grupo de, aproximadamente, 15 moradores do Lobo Guará, vilarejo do bairro de Cambury, aproveitou para questionar o prefeito.
Eles reclamam de não terem sido incluídos na lista dos beneficiados. “Viemos atrás dos nossos direitos porque eu também perdi tudo na enchente”, diz a desempregada Elizangela Rodrigues, 34 anos. Pressionado, Ernane prometeu “ver a possibilidade de incluir” mais famílias.
Segundo a assistente social, Rizia Macedo, as beneficiadas foram listadas pela Defesa Civil. “Estivemos no local, mas muitas pessoas não foram encontradas. Quem estava, no momento, foi cadastrado”, conta Rizia. Ela ainda admite ter efetuado o cadastro de famílias que não estavam na lista entregue pela Defesa Civil.
De acordo com o chefe da Defesa Civil, Carlos Eduardo Santos, o critério para indicação das famílias são as que tiveram casas completamente destruídas ou que necessitem de reforma para que possam voltar a serem ocupadas. A reportagem, no entanto, conversou com uma mulher que está dentre as beneficiadas mesmo sem ter a casa interditada.


Mais cobranças
Rodeado pelos moradores, Ernane ainda teve que ouvir cobranças por serviços públicos.“O senhor já está no seu segundo mandato e continuamos sem melhoria nenhuma. O que o senhor pode fazer para ajudar o Lobo Guará?”, quis saber uma moradora. O prefeito falou sobre o tramite para regularização da área e prometeu iluminação e saneamento. “Precisa ter um pouco de paciência”, pediu.
Quando questionado sobrea a falta de médicos, Ernane alegou falta de profissionais no mercado e aproveitou para cutucar o antecessor. “Tem médico que não quer trabalhar. Arrumou um atestado falso e fica o dia inteiro na rua”, comentou, sem citar nomes, numa clara referência ao ex-prefeito Juan Garcia, alvo de processo administrativo que contestou seu afastamento das atividades na Prefeitura. “Mas isso o jornal não publica”, acrescentou o prefeito, voltando-se para o repórter do Imprensa Livre.
Acompanhado apenas da primeira-dama, Ernane seguiu respondendo os moradores. Ao ser informado que o representante da CDHU estava próximo, ele comentou, aliviado: “Ainda bem”. À reportagem, minimizou o atraso. “É bom que a gente aproveita para esclarecer as dúvidas”, disse.
Assim que chegou Nilo Pereira Junior, líder do Núcleo de Atendimento Habitacional Provisório da CDHU, o prefeito entrou na sala onde os beneficiados aguardavam e posou para fotos. Três minutos depois, deixou o local.


Prazo vencido
Coube a Pereira Junior avisar, ao grupo de moradores que ficou de fora do programa, que não havia a possibilidade de incluir mais ninguém. “O cadastro ocorre durante o período de emergência. Em São Sebastião, esse prazo já venceu”,alegou. O líder da CDHU garantiu também que vai fiscalizar possíveis casos de recebimento indevido. “A Prefeitura tem que manter a casa interditada. Se no endereço cadastrado tiver gente morando, corta o benefício”, declarou Pereira Junior. A ajudante de cozinha, Nivalda dos Santos Silva, 29 anos, foi embora frustrada. “Pensei que ia poder me cadastrar hoje”, lamentou.
As famílias cadastradas receberão seis parcelas de R$ 300 e mais uma parcela única de R$ 1 mil. Desalojado há 15 meses, o jardineiro Alberto Rogério Kusy, 40 anos, só conseguiu receber, na semana passada, a primeira parcela. “Para pagar aluguel, não dá. Esperava mais”, afirmou Kusy. A casa dele está sob ameaça de deslizamento de rocha, na Vila Barreira, em Cambury. Já a doméstica Sonia Maria Nascimento, 53 anos, que mora de aluguel depois que teve a casa interditada na Tropicanga, disse que o dinheiro vai ajudar nos gastos com medicamentos para o marido.


Foto: Helton Romano/IL

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