Pescadores aguardam aprovação da APA Baleia-Sahy para regulamentar turismo ecológico







Com pesca escassa, profissionais artesanais fazem passeios com turistas para complementar renda enquanto vereadores não aprovam a proposta
Pescadores da praia de Barra do Sahy, Costa Sul de São Sebastião estão aguardando a aprovação da Área de Preservação Ambiental (APA) Baleia-Sahy para atuarem no segmento de turismo ecológico.
A atividade, que já vem sendo praticada há alguns anos, serve como compensação pelas dificuldades de se sobreviver exclusivamente da pesca artesanal, que a cada dia vem rendendo menos pescados e, consequentemente, menos recursos para sobrevivência.
Com a criação da APA os pescadores artesanais daquela região poderão saber quais locais eles poderão praticar a pesca artesanal, após a elaboração de um plano de manejo sustentável.


Com a preservação do ecossistema, eles acreditam que haverá aumento no número de turistas interessados em realizar passeios pelo rio que corta Barra do Sahy e em As Ilhas a 1,5km da costa.
Aroldo Tavares, de 56 anos, pesca em Barra do Sahy desde os 10 anos, quando saía com seu pai para desbravar o mar e auxiliar no sustento de sua família.
“Naquela época a gente conduzia a canoa no remo. Bastava jogarmos 50 metros de rede com dois metros de altura e matávamos muitos peixes. Hoje, os tempos mudaram. A gente joga dois quilômetros de rede e não pegamos quase nada”, lamenta.
Segundo Aroldo, a quantidade de peixe capturada décadas atrás acabava sobrando. “Naquela época não tinha turistas para a gente vender, então a gente trocava o pescado com algum objeto que precisávamos”.
Os tempos bons ficaram para trás e atualmente, para complementar a renda, Aroldo transporta turistas para As Ilhas e realiza passeios pelo rio que corta o bairro. “Temos seguro e nossas embarcações são registradas na Capitania dos Portos”.
Ele disse que cobra entre R$ 40 e R$ 50 por pessoa e ainda sofre com a concorrência desleal de clandestinos, que fazem os passeios com preços mais baixos na tentativa de conquistar os turistas mais desavisados.


Delizino Jorge dos Santos Filho, de 62 anos, também preferiu deixar a pesca para atuar no segmento de ecoturismo. Desde 1983 leva turistas para passeios na região.
Para ele, a criação da APA irá fomentar ainda mais o ramo. Presidente da Pró-Sahy Associação Náutica (Prosan), ele também sofre com a atuação de clandestinos que atuam na região. O combate aos ilegais é uma das bandeiras da associação, que também é favorável à APA.
Área degradada
A criação da Área de Preservação Ambiental (APA) Baleia-Sahy depende da aprovação da Câmara de São Sebastião. Ela foi aprovada pelo Conselho Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Condurb) após o projeto ter sido apresentado em audiência pública do Plano Diretor.
A região, uma das mais valorizadas do estado, vem sendo degradada ano após ano por conta da especulação imobiliária para construção de casas de alto padrão e condomínios de luxo, muitos já embargados judicialmente porque foram erguidos em Áreas de Preservação Permanente (APPs).
O Movimento Preserve o Litoral Norte acredita que a criação da unidade de conservação deverá proporcionar o uso sustentável da área, com atividades voltadas ao ecoturismo, à extração de materiais para artesanato com plano de manejo sustentável e ao controle de poluição, além de uma fiscalização mais efetiva.
“O desenvolvimento sustentável vai propiciar uma segunda fonte de renda às comunidades tradicionais e aos pescadores que ali vivem, além de possibilitar a visitação do mangue como um berçário para aulas socioambientais”, acredita Fernanda Carbonelli, do Movimento Preserve o Litoral Norte.
Segundo Fernanda, o movimento pretende agir constantemente na área, arcando com os custos para conter a poluição e fiscalizá-la em parceria com o poder público e os órgãos ambientais.
“A sociedade civil já vem fazendo grande parte do que é de responsabilidade do poder público. Esta parceria irá oferecer um ganho ambiental enorme para o município. Trata-se de um projeto inovador e que poderá servir de modelo para outras praias e cidades”, afirma.


Estudo
De acordo com o engenheiro agrônomo André Motta Waetge, que elaborou o estudo, não existem áreas protegidas formadas por manguezais, brejo de restinga ou floresta paludosa em São Sebastião.
“Com a criação da APA, estaremos assegurando que essas formações florestais continuem exercendo suas funções ambientais para o equilíbrio da fauna aquática e, consequentemente, para a manutenção da pesca litorânea e oceânica, garantindo a preservação de vida nos oceanos, além da cultura e sobrevivência dos caiçaras que vivem no local e ainda praticam a pesca artesanal”, frisa o consultor.
Waetge explica que a maior parte da área delimitada para criação da unidade de conservação está localizada às margens do Rio Preto e em suas áreas de alagamentos sazonais, ou seja, são consideradas como área de preservação permanente. O projeto prevê a possibilidade de formação de um corredor ecológico, unindo toda planície inundada situada na zona de influência das marés, local com o maior fragmento florestal do município, que é o Parque Estadual da Serra do Mar. Segundo o engenheiro, nenhum dos parques existentes em São Sebastião possui a capacidade de unir fragmentos florestais tão diversificados, como a floresta ombrófila densa, transição restinga-encosta, floresta alta de restinga, floresta paludosa, brejo de restinga e manguezal.


Espécies
Por intermédio da APA Baleia-Sahy, os ambientalistas pretendem criar ações sustentáveis, como a exploração da área para o turismo ecológico, com passeios de barcos pelo manguezal, locação de caiaques, guias de turismo ecológico, birdwatching, entre outras atividades. Há também a possibilidade de se criar na área um centro de educação ambiental, para aulas práticas com crianças das escolas do bairro e de outros municípios.
Segundo André Waetge, a APA irá preservar uma grande quantidade de espécies de fauna e flora ameaçadas de extinção, provenientes de um bioma ainda pouco conhecido e estudado. Levantamento realizado durante o estudo que embasou a criação da Área de Proteção Ambiental apontou a existência de 84 espécies de aves, das quais 14 são endêmicas, ou seja, somente existem na Mata Atlântica. “Sete dessas espécies apresentam algum grau de ameaça”, diz ele.
A riqueza de mamíferos registrada para a área é de 12 espécies, das quais cinco também apresentam algum grau de ameaça. Sobre as espécies de flora, há a presença de palmito juçara. A identificação de outras espécies dependerá de um levantamento florístico e fitossociológico detalhado.


Foto: Newsfacto/Divulgação

Comentários