Movimento Topolândia Sem Rodovia promove manifesto embaixo de chuva em São Sebastião







Moradores acreditam que Dersa tem condições de promover novas alterações no traçado do Contorno Sul
Cristiane Lopes


O mau tempo esfriou a manifestação programada pelo movimento Topolândia Sem Rodovia, organizado por moradores, com o objetivo de mobilizar a comunidade que será afetada pelas obras do contorno sul da Nova Tamoios. Com início marcado para as 16h, por volta das 16h30, eram apenas cerca de 10 pessoas concentradas em frente à Escola Estadual Josepha de Sant’Anna Neves, que também será afetada pelas obras. Por volta das 17h30, a manifestação já somava cerca de 40 pessoas. Mesmo com o frio e a chuva média e constante, os manifestantes deram início a uma passeata pacífica pelas principais ruas do bairro.
Além de populares receosos com o futuro, a manifestação contou com a participação de lideranças de várias áreas, tais como o presidente da Associação de Moradores do Bairro da Topolândia (Ambto), Milton da Rocha Lima, o Russo, um dos organizadores do evento; o presidente do Sindicato de Servidores Municipais de São Sebastião, Ivan Moreira; e ex-candidatos a prefeito, como Fernando Puga, do PT, e João Amorim (PSOL), que também é morador do bairro, entre outros apoiadores. “Vem pra rua”, incitava Amorim.
Pelo menos até o início da passeata, que seguiu pela avenida Professor Machado Rosa até entrar na rua São Benedito, o Professor Gleivison Gaspar era o único representante do Poder Legislativo no local.


Desabafos e reivindicações
Nas palavras dos moradores, tons de revolta, mas também de esperança e até revanche política: Ivanir Francisca das Almas, gari, moradora da rua José Pacini, compareceu à manifestação com a filha, de 24 anos, e está inconformada com a ideia de ter que deixar sua casa. “A gente batalha muito para conseguir algo para a família da gente. Nosso suor tem que ter valor. Não é justo que minha casa vá por água abaixo”, desabafou.
O aspecto histórico do bairro foi o principal argumento utilizado por moradores mais antigos, como Jacira dos Santos, 58 anos, doméstica. “Meu pai mora aqui há 60 anos e eu também nasci aqui. É um bairro histórico, está próximo do Centro. Acho que não devemos sair daqui”. “Meus pais foram um dos primeiros moradores do bairro; minha mãe chegou a lavar água neste córrego que hoje está sujo. Temos uma história neste lugar e que precisa ser respeitada”, disse a autônoma Marta dos Santos Araújo. O morador José Carlos da Silva Alves, o Zé Galo, acredita que o Estado possa fazer novas alterações no traçado se houver pressão popular. “Eu acredito que, se o Alckmin entender que precisa da população, ele vai recuar. Agora, se isso não acontecer, quem vai passar por cima dele é a gente, nas urnas”.


Mobilização
Russo, presidente da AMBTO, deixou clara a proposta do Movimento Topolandia Sem Rodovia. “Não somos contra, queremos a rodovia, mas não em cima de nossas casas”. Ele acredita que a desapropriação das famílias será maior do que a anunciada pela Dersa [na Topolândia, 104 famílias terão de ser reassentadas] e que os moradores sofrerão prejuízos além de dificuldades para adquirir outro imóvel. “As casas próximas à rodovia serão desvalorizadas e também não há imóveis baratos para se comprar na cidade. Sem contar no investimento que cada morador fez em sua casa para deixá-la da forma que sempre sonhou. A gente acredita que não é necessário que a rodovia passe no meio do bairro. Viaduto aqui pode favorecer o aparecimento de favelas e aumentar problemas sociais como o consumo de drogas e a prostituição. Se isso se confirmar, será uma catástrofe geral”.


Para Russo, nem todos os moradores possivelmente afetados estão cientes desses riscos. “Era para ter mais gente aqui hoje (sábado). As pessoas sabem, mas não têm noção do que ocorre. Temos feito palestras sobre o projeto para tentar mobilizar mais a comunidade, mas os moradores não descem para escutar. Temos o poder de mudar com a população unida, se não conseguirmos isso vão passar por cima da gente com essa estrada”.
Russo defende que a Dersa faça um novo traçado, que passe por dentro da Petrobras/ Transpetro e por sobre o Cnaga. “Precisamos de um contorno diferente, de uns 500 metros para salvar essas residências. Sabemos que há tanques desativados na Petrobras. Acreditamos que um novo traçado seja possível”.


Próximos passos
Ainda na concentração, vários apoiadores do movimento utilizaram o microfone. O comerciante e engenheiro Fernando Puga declarou que deputados do PT, como o estadual Marcos Aurélio e o federal Carlos Zarattini, têm acompanhado a questão. “O deputado Carlos Zarattini agendou uma reunião com o presidente da Petrobras/ Transpetro para o dia 23 de agosto para tratar desta questão. Também acredito que não seja necessário que ela passe pelo meio do bairro. O vereador Professor Gleivison Gaspar (PMDB) também declarou que soube de uma área do Estado, dentro da subsidiária da estatal que teria sido cedida em meados da década de 60 e que a informação também pode ser usada por argumentação para mudanças no traçado, com vistas a evitar a retirada das casas. “O governo do Estado tem uma área de mais 12 mil metros quadrados lá dentro. Há um decreto estadual de 1965 que cede esta área para a Petrobras/ Transpetro. Passamos a ter um trunfo nas mãos”.
Gaspar afirmou que soube do decreto por uma advogada e que pesquisou na Assembleia Legislativa se o decreto havia sido suspenso. “É um documento assinado pelo governador Adhemar de Barros em 1965. Não há mudança registrada em relação ao decreto. Se a rodovia interessa ao governo do Estado, que ele próprio pegue esta área de volta. O município e a população não podem pagar por isso duas vezes”, completou.


Foto: Fotos: Deise Santos/ Divulgação

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