Sem ações compensatórias definidas, maricultores acumulam dívidas e deixam de vender até 300 kg por semana





A produção está parada e os 17 maricultores estão sem trabalhar desde o dia do vazamento, 5 de abril
Acácio Gomes


Prestes a completar um mês do vazamento do Canal de São Sebastião, pescadores e maricultores de Caraguá e São Sebastião ainda aguardam uma definição da Transpetro, subsidiária da Petrobras, quanto a possíveis ações compensatórias em relação à perda da produção, principalmente dos crustáceos. Em Caraguá, na Praia da Cocanha, a produção está parada e os 17 maricultores estão sem trabalhar desde o dia do vazamento, 5 de abril.
Segundo Antônio Estevão de Mattos, o Toninho Caroba, da Fazenda de Marisco, os maricultores estão deixando de vender entre 200 e 300 kg por semana, que custa R$ 8 o quilo para o varejo e R$ 6 para o atacado.


“Eu pago todos os tipos de impostos. Emito nota, pago alvará. Até agora não tivemos resposta. Tenho recebido ligações de advogado com propostas, porém se perder a causa ainda tenho que pagar honorários. Por que eu tenho que pagar advogado? Não cometi nenhum crime”, disse ele.
Caroba cobra ainda um parecer técnico ou laudo da empresa informando à população que o marisco é próprio para consumo.


“Se entendem que não houve problemas, que nos dê um laudo. Estamos perdendo a produção e dinheiro. Recebi a ligação na semana passada de um dono de uma rede de peixarias querendo 5 toneladas e não posso vender. Minhas contas estão todas atrasadas e a empresa não diz nada”, conta.
O maricultor disse ainda que todos os dias há funcionários da empresa na fazenda coletando amostras de água e alguns mariscos, mas não informam nada.
“Vou esperar mais uma semana alguém se manifestar, senão vou encher um caminhão de mariscos e despejar na porta do Tebar. Se fosse uma coisa da natureza, eu jamais iria reclamar, pois no ano passado perdi a maior parte da minha criação devido à temperatura da água. Não reclamei com ninguém, mas este desastre foi por causa da imprudência humana”, finaliza.


Por enquanto, o único encontro entre a Transpetro e os pescadores e maricultores da região foi realizado em 15 de abril. Na oportunidade, representantes dos profissionais das cidades de Caraguá, Ilhabela e São Sebastião se uniram para reivindicar os prejuízos advindos com o vazamento de combustível marítimo.
Na oportunidade, foi escolhido como intermediador entre a empresa e os trabalhadores, o superintendente federal do Ministério da Pesca e Aquicultura no Estado de São Paulo, Jorge Augusto de Castro.


Segundo ele, é importante que os pescadores e maricultores se unam em suas reivindicações a fim de obterem uma resolução mais rápida a cerca dos prejuízos sofridos com o acidente ambiental.
A intenção é um acordo com a empresa, que resolveria de forma mais rápida a questão, do que uma ação judicial. “Queremos que os pescadores sejam ressarcidos o mais rápido possível”, declarou Castro.


Nota
A Transpetro, por meio da Assessoria de Imprensa, esclareceu que em reunião realizada no dia 17, com pescadores de São Sebastião, se comprometeu a analisar os pleitos formalmente apresentados.


Tramitação
Os maricultores e pescadores de Caraguá que foram afetados pelo vazamento aguardam um trâmite para que possam receber uma ajuda de custo da Prefeitura no valor equivalente a dois salários mínimos (R$ 1.356) por um período de oito meses.
A autorização pelo repasse foi dada em 17 de abril pelos vereadores de Caraguá, durante sessão extraordinária. O projeto prevê ainda que seja celebrado um convênio com a Associação dos Maricultores e Pescadores da Praia da Cocanha, no valor de R$ 200 mil, podendo suplementar em até R$ 242 mil para custear os reparos provocados pelo desastre, perfazendo em torno de R$ 659 mil no total.
Vale lembrar que com o acidente ambiental os maricultores perderam toda a Fazenda de Marisco. Esta fazenda é considerada a maior do Estado de São Paulo e a segunda maior do País, atrás apenas de Santa Catarina. A produção média é de 80 a 100 toneladas por ano. A área da fazenda é de 200 mil metros quadrados com possibilidade de chegar a 300 toneladas ano.


Atendimento imediato
O prefeito de São Sebastião, Ernane Primazzi (PSC), se reuniu na última segunda-feira, com o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, para tratar de diversos assuntos, entre eles, os estragos causados pelo vazamento no Canal de São Sebastião.
De acordo com o prefeito, a primeira reunião com a empresa mostrou flexibilidade e receptividade por parte do presidente da subsidiária, o que facilitou alguns avanços nas reivindicações apresentadas por São Sebastião.
Para Ernane, ficou claro que os pescadores da cidade devem ser atendidos imediatamente no que for necessário para o ressarcimento dos prejuízos causados pelo vazamento e que afetou diretamente toda a classe.


Foto: Arquivo

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