Menino passa o dia recolhendo sucata na Costa Norte





Aos 8 anos de idade, ele só pensa em trabalhar para ajudar nas despesas de casa
Helton Romano

Meio-dia, fim das aulas no período da manhã. Hora de ir para casa almoçar e passar a tarde brincando na rua, na praia, numa quadra de futebol ou mesmo em casa jogando vídeo-game. É o que faz muitos amigos de G. que, aos 8 anos de idade, vive uma outra realidade. Com um carrinho de mão emprestado pela avó, o menino percorre as ruas do bairro do Jaraguá, na Costa Norte de São Sebastião. Por volta das 12h30, ainda com o uniforme da escola, ele entra num contêiner de lixo e começa a revirar os sacos. Para, observa, pensa. Ele parece procurar algum objeto específico.
A cena do menino dentro do contêiner chama a atenção de outras crianças que passam pelo local. “Sai daí. Tá sujo”, grita uma delas. Concentrado no trabalho, G. dá de ombros e segue tentando encher o carrinho com sucata. Cerca de 10 minutos depois, ele desce do contêiner e procura uma sombra para descansar. Afinal, o sol está a pino e a temperatura passa dos 30 graus.


Nesse momento, a reportagem se aproxima e conversa com o menino. Embora tenha apenas 8 anos de idade, fala com a experiência de quem já recolhe sucata desde os 5. Ele conta que sua mãe está desempregada, por isso precisa trabalhar para “comprar as coisas”. Sua jornada vai até às 18h. Perguntado se não gostaria de estar brincando, G. surpreende. “Prefiro trabalhar. Brincar, só depois que ganhar dinheiro”, afirma, de cabeça baixa.
O menino diz que só pega lata e alumínio. O material é vendido para um homem chamado Paulo. “Já ganhei até R$ 5”, conta, entusiasmado, G.. Ele reclama do irmão, de 9 anos, preguiçoso, segundo ele, por não querer trabalhar.


Quando indagado sobre o que sonha em ser quando crescer, o menino não pensa duas vezes. “Trabalhador”, responde G., sem ter a noção exata de que essa virtude ele já possui. Tem em seus planos, continuar vendendo sucata até os 19 anos. “Depois, vou trabalhar igual meu tio para comprar pão, leite, mortadela...”, vislumbra o menino, que não soube dizer o que faz o tio.
Antes de se despedir da reportagem, mostrou uma cicatriz na perna, provocada por uma queda que teve dentro de um contêiner. Pegou o carrinho de mão e seguiu à procura de mais sucata ou, quem sabe, de oportunidades para um futuro melhor.


Foto: Helton Romano/IL

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