Manifestação pró-Ernane leva centenas de pessoas à Câmara




Gritos de apoio ao prefeito e cartazes contra o antecessor deram o tom do evento
Helton Romano

Quase sete meses depois das eleições, São Sebastião continua vivendo o clima da campanha política. Os ânimos se acirraram após duas sentenças judiciais que condenaram o prefeito Ernane Primazzi (PSC) à cassação do mandato. Ambos os processos foram movidos pelo grupo do ex-prefeito Juan Garcia (PMDB). Ernane, porém, se mantém no cargo, sob efeito de liminar, até julgamento, em última instância, dos recursos que apresentou.


No mês passado, manifestantes realizaram uma passeata no centro da cidade pedindo que Ernane deixasse o poder. O protesto seguiu nas sessões de Câmara, quando vereadores governistas foram vaiados na tribuna. Na última terça-feira, dia de sessão, foi a vez dos correligionários do prefeito darem o troco. Por volta das 17h, centenas de pessoas começaram a chegar à praça da Igreja Matriz. A aglomeração causou lentidão no trânsito e irritou motoristas que passavam pelo local.
Com ajuda de alto-falantes, a locutora Damares Oliveira, chefe de divisão na Secretaria de Governo, puxava os gritos de apoio ao prefeito. “A gente apanha no facebook, mas hoje mostramos nossa força. Nós somos a voz dessa cidade”, bradou a locutora, que falou também das “obras feitas com carinho”. “Quando eles fazem manifestação não chega a 70 pessoas. A nossa tem mais de mil”, completou.


Extraoficialmente, policiais militares que faziam a segurança no local estimaram em, aproximadamente, 500 manifestantes. “São funcionários da Prefeitura”, comentou um deles. De fato, foi notada a presença de um grande número de ocupantes de cargos comissionados, como secretários e diretores de diversos departamentos. O chefe de gabinete da Prefeitura, Sérgio Félix, andava de um lado para o outro coordenando o movimento. O assessor de um vereador confidenciou à reportagem que os funcionários receberam ligações convocando-os a participar da manifestação.


“Sou a favor que o voto das urnas seja respeitado”, opinou Tania Ladaga, 48 anos, assessora da Secretaria de Governo, que veio de Maresias para demonstrar apoio ao prefeito. “Eu gosto da Administração. Vim apoiar, principalmente, o vereador Ernaninho”, declarou Margarete de Oliveira, 35 anos, assessora da Secretaria de Saúde que reside no Morro do Abrigo.


Mas a reportagem conversou também com pessoas que não trabalham na Prefeitura. “Eu votei no Ernane e não gostaria que ele saísse”, disse a comerciante Maria da Penha, 42 anos, do Itatinga. “Foi um dos melhores prefeitos que São Sebastião já teve e precisa continuar”, defendeu a autônoma Janete Isabel da Silva, 46 anos, do Canto do Mar. Ela segurava um cartaz que exibia a foto do ex-ditador iraquiano, Saddam Hussein e a mensagem: “o povo já te derrotou duas vezes nas urnas”.


Além de Saddam, o terrorista Osama bin Laden e o ex-presidente venezuelano, Hugo Chávez, também ilustraram cartazes erguidos pelos manifestantes. Um homem, que não quis se identificar, afirmou que estava passando pela rua quando lhe deram um cartaz para segurar. Indagado pela reportagem sobre a mensagem que fazia alusão à ditadura, disse que não sabia o que estava escrito.

Rei Ernane
Com apenas 60 lugares disponíveis na plateia, quem quis assistir à sessão da Câmara precisou se apertar no acanhado espaço. No início, o presidente Marcos Tenório (PSC) teve trabalho para conter a empolgação do público. “Ei, ei, ei, Ernane é o nosso rei”, gritavam. Do lado de fora, uma mulher respondia que o rei era o Juan, sem se intimidar com os olhares de reprovação. “Vinte neles”, berrava um assessor do vereador Ernaninho (PSC), em referência o número do partido do prefeito.


Uma mulher distribuiu aos presentes um panfleto que cobrava atitude dos vereadores quanto às denúncias contra o prefeito. O vereador Ercílio de Souza (PV) não gostou e bateu-boca com ela.
Na tribuna, Gleivison Gaspar (PMDB) pediu responsabilidade aos vereadores que, segundo ele, estariam incitando a violência. Depois, se dirigiu aos funcionários comissionados que assistiam na plateia. “Deveriam estar trabalhando para ajudar o prefeito. Não têm que estar aqui usando o momento para marcar o território”, disparou Gleivison, arrancando aplausos e vaias. A sessão atípica terminou às 20h35 e os cartazes levados pelos manifestantes foram largados no fundo do plenário.


Foto: Jorge Mesquita/IL

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