Moradores reclamam, de novo, de cheiro de gás em área contaminada da Petrobras
Comunidade fica incomodada com novos odores registrados no bairro e aciona policiamento e bombeiros
Mara Cirino
A manhã de ontem foi de correria para os moradores que residem na rua Julio Prestes de Albuquerque e imediações, no bairro Itatinga, na região central de São Sebastião. Eles sentiram forte cheiro de gás na área contaminada onde uma empresa presta serviço para a Petrobras, e acionaram o Corpo de bombeiros, Polícia Militar, Polícia Ambiental e técnicos da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb). Assustados, alguns chegaram a afirmar que não deixaria mais ninguém trabalhar no local. Um dos mais revoltados e preocupados era o guarda-vida civil Evaldo Pereira, 38 anos, que relatou ter passado mal desde o dia anterior quando chegou a desmaiar. “Hoje saiu cedo para ir ao médico e logo em seguida me ligaram para avisar que o cheiro estava muito forte. Quando cheguei na rua já tinha gente de fora e esse cheiro forte”.
Quem também ficou assustado foi o aposentado Antonio Tenório dos Santos Filho, 54 anos, que ainda mostrou machucado que tem no braço e que teria aparecido após a descoberta que a área tem enterrado lixo considerado tóxico.
Após o alerta da comunidade, viaturas do Corpo de Bombeiros e da PM foram ao local. Os bombeiros observaram as imediações, mas no momento que estavam na área não sentiram nada. “Toda vez é assim, sempre que a gente aciona algum órgão técnico, eles (a empresa) dá um jeito de tapar o buraco para ninguém ver”, denuncia Pereira. Os moradores também estão preocupados, pois acreditam que o órgão ambiental não está fazendo nada. “Nós acionamos a Cetesb e até o momento não apareceu ninguém aqui”, disse o motorista Geraldo Ribeiro Celestino, 39 anos, no período da manhã. “Ninguém está preocupado com nossa saúde, com o que estamos passando”, continuou.
Diante da situação, os moradores aproveitaram a presença de policiais militares e avisaram que não vão deixar mais ninguém trabalhar no local enquanto, o que consideram um problema, não for solucionado.
Limpeza
A área em litígio foi classificada de zona vermelha (que compreende parte da Avenida Itatinga e das ruas Tancredo Neves e Júlio Prestes de Albuquerque) e nela foram demolidas as residências, pois foi encontrado material derivado de petróleo no solo. Conforme os moradores da região delimitada como azul, que fica no entorno, a Petrobras teria informado que a remoção desse material contaminado só ocorreria após a transferência das famílias dessa nova área, o que não foi feito.
Há quase dois meses, funcionários da empresa Estre estariam trabalhando na remoção do material contaminado. “Eles mexem o dia inteiro e sempre que tem algum problema, param de funcionar as máquinas”, contou Edvaldo Pereira.
“A própria Cetesb já atestou que a área está contaminada com produtos derivados de petróleo, causadores de câncer e de outras doenças, e que ele é transmitido, inclusive, pelo ar”, disse Pereira.
Movimentação
De acordo com a assessoria de imprensa da Cetesb, um técnico da Agência Ambiental de São Sebastião esteve ontem à tarde no Itatinga para verificar problema relatado de odor incômodo. Conforme o órgão, o técnico constatou que a Estre, com autorização da Cetesb, está movimentando solo na área contaminada, como parte dos trabalhos de remediação, e isso pode, naturalmente, gerar odor incômodo. “Contudo, durante o tempo da vistoria, a percepção desse odor, pelo próprio técnico, foi muito pequena e inconstante. Até pelo fato de que a empresa alterna sistematicamente o trabalho de escavação com o imediato recobrimento do solo, justamente visando evitar a emissão de odor”, destaca a nota.
Além disso, verificou-se que a empresa procede também, preventivamente, há monitoramento contínuo de concentração de gases, com uso de equipamentos adequados, não tendo se averiguado nenhuma anormalidade, nesse sentido. Por fim, o técnico da Cetesb teria conversado, orientado e prestado esclarecimentos a moradores da vizinhança.
No final de junho a Cetesb chegou a explicar que trabalhos de investigação detalhada, para definir a cubagem dos resíduos do solo contaminado a serem removidos, estariam em curso. Disse ainda que não havia previsão de remoção da população do entorno (além muro da área vermelha) para executar as ações de investigação e escavação. A primeira denúncia sobre o cheiro de gás e outros odores foi registrada junto à Cetesb no dia 14 de junho. No mesmo dia, um técnico esteve no local e não constatou emissão de odores. Conforme o órgão, ao final da remediação da área delimitada, deverá ser avaliada, em conjunto com a Prefeitura, Petrobras, Cetesb e Ministério Público, a necessidade, ou não, de outras ações de investigação e/ou remediação.
Petrobras
A reportagem entrou ontem em contato com a assessoria de imprensa da Petrobras para falar sobre mais esse episódio, mas até o fechamento desta edição não houve retorno da empresa.
No início de julho, a Petrobras chegou a informar que no momento não estaria sendo realizado nenhum trabalho de escavação no bairro. A empresa afirmou, na ocasião, que os trabalhos de escavação e remoção do solo na área denominada “vermelha” já teriam sido concluídos no início de 2009.
Foto: Mara Cirino/IL
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