Grupo monitora ‘bola de fogo’ que atravessa céu e cai em Caraguá



Grupo monitora ‘bola de fogo’ que atravessa céu e cai em Caraguá








Grupo de astrônomos amadores iniciou no País, há dois meses e meio, projeto de monitoramento de meteoros

Thereza Felipelli



Às 5h50 da última quarta-feira, a estação de monitoramento da rede Bramon (Brazilian Meteor Observation Network), ou Rede de Observação de Meteoros Brasileira, de São Sebastião, operada por Eduardo Plácido Santiago, capturou um grande meteoro (bola de fogo) cruzando o céu da região e caindo no mar, em Caraguatatuba.

O grande meteoro também foi capturado pela estação operada por Marco Mastria em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, também da rede Bramon, que, em parceria com o Reino Unido e a Europa, iniciou suas atividades no País em janeiro deste ano com o uso de câmeras de monitoramento, coletando os primeiros dados detalhados sobre meteoros no Brasil.

“Estamos monitorando o céu da região desde o primeiro dia de janeiro e nossas cinco câmeras já capturaram cerca de 630 meteoros entrando em nossa atmosfera, sendo que, deste total, conseguimos estipular a trajetória e órbita em nosso sistema solar de 61 meteoros”, disse Santiago.

Segundo ele, com este tipo de monitoramento é possível triangular o meteoro, como no caso do meteoro do último dia 12, captado pelas câmeras em São Sebastião e Mogi, e precisar várias informações a respeito. “Sabemos, por exemplo, que este meteoro em questão era do tipo rochoso e não metálico, precisamos sua massa/peso em 28 kg e o mesmo entrou em nossa atmosfera a uma velocidade incrível de 15 quilômetros por segundo, percorrendo o céu por uma distância aproximada de 50Km a uma altitude de 24 mil metros em cerca de 3 segundos”, contou.

“Nossos cálculos iniciais indicam que de um total de 28 kg apenas algo em torno de 150 gramas possa ter resistido a desintegração pós explosão e caído em território brasileiro; porém nossos cálculos também indicam que o mesmo possa ter caído no oceano impossibilitando uma eventual expedição na tentativa de localizar o que sobrou do meteoro”, continuou.

Ainda de acordo com Santiago, trata-se de algo muito complexo a procura de um eventual meteorito em solo. “Temos oceano e uma vegetação densa na região (Mata Atlântica) e a Serra do Mar, portanto é necessário um meteoro de massa considerada para que resista à entrada na atmosfera e caia em solo sendo assim possível sua localização através de coordenadas”, explicou.



Ineditismo

O grupo, que continua com sua pesquisa e monitoramento constante, enfatizou ainda a importância deste tipo de estudo em nosso país: “É algo jamais realizado no país, realizar a captura em vídeo de um meteoro e com auxílio de softwares específicos poder realizar os cálculos de velocidade, altura, distância percorrida, massa e até mesmo precisar o local da queda” explicou Santiago.

Até o momento, os meteoritos encontrados no país foram descobertos após suas quedas ou por meio de relatos de testemunhas, e uma eventual descoberta oriunda de estudos e acompanhamento desde o momento de sua entrada na atmosfera, cálculos e expedição in loco, é algo jamais realizado no país e raramente realizado com sucesso no mundo.

“Nosso objetivo é realizar o estudo para se descobrir como se comportam os meteoros no hemisfério sul de nosso planeta; descobrir novas chuvas de meteoros já tão conhecidas pela população quando veiculadas nas mídias”, disse Santiago.

Segundo ele, já existem há alguns anos redes de observação de meteoros no Japão, Europa, Reino Unido e Estados Unidos. Porém, estas iniciativas de pesquisas possuem limitações geográficas. Uma vez que operam apenas hemisfério norte, não conseguem realizar esses mesmos estudos como detecção de novas chuvas de meteoros que ocorrem no hemisfério sul da Terra.

“Nosso objetivo é preencher esta lacuna e assim poder complementar estes dados tão preciosos sobre os estudos de meteoros e suas trajetórias até a entrada em nosso planeta”.



Apoio

O grupo brasileiro tem recebido apoio de diversos grupos de pesquisas internacionais, como os grupos Edmond (Europa), Cement (Europa), CMN (Croácia), Ukmon (Reino Unido) e IMO VMN, que são vários grupos de pesquisa da Europa reunidos.

“Nossos dados obtidos até o momento são validados por estes grupos internacionais, que já são conhecidos internacionalmente e que nos tem prestado total apoio”, informou Santiago.

“Nossos computadores e câmeras são operadas tanto pelos usuários do grupo brasileiro, bem como acessados através da internet por membros destes grupos Internacionais, uma total integração das redes de observadores mundiais permitindo um mapeamento completo a nível global”, explicou.

É prevista para o final do ano a chegada de alguns integrantes destes grupos internacionais de pesquisa para conhecer pessoalmente o trabalho dos brasileiros e melhorar a interação entre as redes, fazendo uma espécie de “intercâmbio”. Segundo Santiago, está quase certa a vinda do integrante do grupo europeu (Edmond/Cemente), Jakub Koukal, da República Checa.

“Esta parceria irá reforçar o trabalho sério que a rede brasileira Bramon está iniciando no país, assim como atrairá a atenção da população e eventuais financiadores para o projeto”, avaliou.



Investimento

Atualmente todo esse trabalho é realizado com investimento pessoal de cada integrante do grupo, sendo que até viagens são realizadas para instalação de estação de monitoramento.

“Realizei uma viagem que foi financiada com recursos próprios e com a ajuda de colegas do Facebook, bem como tive parte de minha viagem custeada pela empresa DDDRIN de São Sebastião”, contou Santiago.

“Foram 1.300 km de distância e 29 horas de viagem (ida e volta) até Nhandeara para realizar o suporte técnico a uma nova estação que estava sendo iniciada, tudo com recursos muito escassos. Porém com a ajuda de todos conseguimos realizar a nossa missão.”

Hoje esta estação está operando normalmente e aguardando a instalação de uma nova estação em Batatais, São Paulo, para poder iniciar a triangulação da mesma área do céu e assim poder dar continuidade aos trabalhos.



Quer ter uma estação?

Santiago explica que qualquer um pode ter uma estação de monitoramento em sua casa bastando apenas possuir um computador, uma placa de captura de vídeo e uma câmera de vigilância noturna; além da utilização de alguns softwares específicos para este fim.

Segundo ele, muitas pessoas já presenciaram quedas de meteoros. “Quando uma pessoa observa a passagem de uma ‘estrela cadente’ está presenciando na verdade um meteoroide entrando em nossa atmosfera, seu brilho é por conta do atrito com nossa atmosfera causado pela grande velocidade em que o meteoroide a atinge; isso faz com que ele literalmente entre em combustão e se desintegre, neste curto espaço de tempo o que observamos é o seu rastro (meteoro); isto é o que a população conhece como estrela cadente”, revelou ele, que garantiu que com esses equipamentos básicos qualquer pessoa pode ajudar no desenvolvimento deste ramo de pesquisa no País.



Câmeras

O grupo, que iniciou suas atividades em janeiro este ano, já conta com cinco câmeras ativas nas cidades de São Sebastião, Mogi das Cruzes, Nhandeara (SP), Samambaia (DF) e Sobradinho (DF).

Está prevista a instalação de mais câmeras ainda no Estado de São Paulo, nas cidades de Campinas, Batatais e São José dos Campos. Há previsão também de instalação de outras câmeras nas regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste do país. “A meta da Rede Bramon é atingir até 15 câmeras de monitoramento ativas até o final do ano”, explicou Santiago.

O grupo tem ainda como objetivo a parceria com observatórios e centros de pesquisas em todo o País. “Planejamos futuramente também instalar estas câmeras em universidades, escolas técnicas e até mesmo em escolas da rede pública”, comentou.

“Despertar a curiosidade dos alunos para a astronomia bem como a pesquisa através de monitoramento de meteoros é algo que enriquecerá o conteúdo didático e é extremamente valioso para a formação de novos profissionais em áreas de pesquisas neste ramo”, avaliou Santiago

Para o monitoramento de meteoros é necessário que pelo menos duas câmeras, a uma distância média de 250Km uma da outra, vigiem o mesmo espaço do céu. “Só a partir de duas câmeras operando e fazendo a mesma cobertura de uma área celeste é que podemos realizar todos os cálculos para determinar todos os detalhes a respeito do meteoro captado e demais estudos posteriores”, explicou.



Quer saber mais? Quer ajudar?

O grupo Bramon de São Sebastião faz um pedido para que qualquer empresa que se interessar pelo trabalho realizado pelo grupo e queira financiar suas pesquisas, bem como qualquer pessoa que tenha dúvidas a respeito de meteoros, que tenha presenciado a queda de um e/ou queira iniciar o monitoramento, entre em contato através do e-mail:contato@bramon.org.



Fotos: Bramon/ Divulgação





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